quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Vem aí a geração Z: o mercado que se prepare!

Muito debate ainda se trava sobre geração Y fazendo com que o assunto continue atual. Atual, porém com indícios de superação. Vem aí um problema maior para lidarmos: a geração Z! É hora de uma visão mais sistêmica sobre as Relações Humanas na empre

Apesar de eu ter nascido naquela linha divisória que separa os Baby Boomers dos X, gosto muito de me entrosar com os Y. Eles exercem fascínio sobre mim. Os Y me encantam pela sua criatividade, bom humor, rapidez e inovação tecnológica. E os Baby Boomers pela estabilidade, experiência e compromisso. Mas os Z me deixam assustada. Confesso que me sinto mais angustiada do que confortável quando penso neles.
Estamos diante dos jovens entre dezoito a vinte e um anos, nascidos depois de 1990, que estão entrando no mercado de trabalho. Os Y que estão inseridos e estabilizados nas empresas parecem veteranos aos olhos dos Z. É uma pena que a maioria da literatura tratando sobre o choque entre gerações no ambiente de trabalho se limite a descrever os conflitos entre eles sem se preocupar em apontar soluções. Enfrentamos, nestes dias, a fronteira entre gerações.
Na hora de chamar pessoas para trabalhar comigo, eu procuro entre os Y. Consigo contar com eles para empreendimentos rápidos com uso de muita informação e que envolvem criatividade. Além disso, eles fazem uma ponte interessante para que eu compreenda o mundo dos Z. Os Y e o seu senso de humor me ajudam a compreender porque os Z gastam uma dinheirada para deixar o cabelo esquisito ou vestir roupas tão coloridas que causam cromofobia (perdão pelo neologismo) em qualquer daltônico.
Em matéria anterior aqui no portal, mencionei um documentário em cinco partes produzido pelo Jornal da Globo (Gerações no Trabalho - que se encontra disponível pelo Youtube). A série conseguiu apontar alguns caminhos por onde as soluções para os conflitos podem passar.
Mas se a empresa ainda não aprendeu a solucionar os conflitos entre Baby Boomers, X e Y ela vai sucumbir diante dos Z pois são ainda mais difíceis de lidar e já estão entre nós através de incentivos ao Primeiro Emprego ou programa Menor Aprendiz.
Para os que trabalham como gestores e professores universitários o choque parece ser menos tenso. Mas apenas parece. Eles passam por nós todos os dias e tivemos que ser versáteis em desenvolver um mecanismo para que eles nos aceitassem como mentores, senão a transmissão do conhecimento ficaria emperrada. E acreditem, é uma estrada árdua. Equilibrar a oferta de ajuda com a resposta em formato de arrogância imatura diariamente não é tarefa que qualquer gestor consiga realizar. A questão volitiva dos Z é difícil de decifrar.
Os Z são mais rápidos para tudo, mais rápidos que os Y, todavia, a capacidade de refletir nas suas ações é perto do zero. Não é uma geração dominada por tecnologia apenas, é uma geração dominada por velocidade tecnológica e por isso mesmo não tem qualquer paciência com as coisas demoradas. Nem para falar. Quem achava que os Y eram impacientes, pode se preparar para enfrentar gente mais impaciente. É "a turma" que "não conheceu" conexão discada. Já repararam a velocidade indecifrável com a qual eles falam ao telefone ou conversam? É um fenômeno antropológico fascinante.
Os processos que demandam tempo e maturação irritam os Z de tal forma que os fazem abandonar os projetos antes mesmo de iniciá-los ou de compreendê-los plenamente. Eles não firmam compromisso com nada. Muita gente reclama que os Y não aprenderam a manter a lealdade com a organização e rapidamente optam por trabalhar na concorrência quando a possibilidade de ascensão oferecida por lá é melhor.Tenha certeza, os Z sequer aprenderam a ter compromisso, nem com a própria carreira. A motivação que os impulsiona é desconhecida ainda de muitos deles. Não sabem explicar porque fazem certas escolhas.
Uma pesquisa que fiz no semestre passado evidenciou um dado muito interessante. O maior problema com turnover que certa empresa apresentou era com a geração Z. O aprendiz chegava no setor para começar a aprender o trabalho a ser feito. Dois dias depois ele já não voltava à empresa porque "o trabalho era chato". Simplesmente dizia "fui", e ia embora mesmo. Com isso a empresa estava enlouquecida nos processos de recrutamento e seleção. Por falta de uma visão estratégica, ela optou por investir na contratação desses Z, achando que sairia mais barato ensinar o trabalho aos Z do que contratar alguém maduro que exigiria um salário maior. Mas os Z não permaneciam na empresa. O processo de substituição constante sobrecarregava os funcionários antigos que ocupavam boa parte do tempo ensinando o trabalho a jovens que não permaneciam 48 horas na organização. O turnover travou a organização.
Outro aspecto que os Z apresentam deficiente além da falta do compromisso e da falta de raciocínio crítico é o senso de prioridades. Muitos empresários se sentem ofendidos porque os Y trabalham ouvindo música e teclando no Facebook simultaneamente. Os Z conseguem simplesmente parar o que estão fazendo no trabalho (o realmente relevante) para acompanhar os resultados do campeonato de futebol ou se divertir com Trolling e outras distrações oferecidas pela internet. A sensação que dá é que eles não dão a menor importância para o fato de o tempo estar passando, talvez porque ainda não conseguiram aprender a máxima que "tempo é dinheiro". Eles não trabalham enquanto ouvem música e teclam com amigos. Eles simplesmente param de trabalhar para navegar na net sem perceber quanto tempo passou.
O conceito de humor dos Z é algo que ainda está no meu campo de pesquisa como "em desenvolvimento". Aquilo que os diverte é considerado por Baby Boomers ou X, marginais como eu, como idiotice ou ofensa. É gente que dá muita risada vendo o uma pessoa se machucar ou se ferir por um ato estúpido, o senso de alteridade deles é algo que ainda precisa ser desenvolvido. Entretanto, paradoxalmente, eles tem uma orientação interior para aspectos da sustentabilidade e da responsabilidade social que precisa ser aproveitado e bem explorado.
Os integrantes da Geração Y são tão autênticos, e gostam tanto de se posicionar convictos frente aos desafios, que ficam facilmente expostos quando dão uma "mancada". Isso me faz pensar que, num certo sentido, eles acabam sendo mais confiáveis do que alguns X ou Baby Boomers mal resolvidos, já que não fazem questão alguma de ocultar o que são e mesmo errando, tem mais ousadia para exposição. É provável que encontremos um número menor de "puxadas de tapete" entre os Y com o passar do tempo, Quando eles não gostam do que está acontecendo é mais fácil vê-los confrontando a situação com dureza exacerbada do que armando intrigas no ambiente de trabalho. Mas os Y precisam se preparar para lidar com o descompromisso dos Z.
Ouvi de um consultor recentemente uma frase que me deixou bastante preocupada. Ele disse "eu não tenho paciência nenhuma para lidar com essa molecada de universidade". Eu fiquei quieta, pensando seriamente em qual era a perspectiva de mercado que este consultor tinha em mente, quando falou isso. Será que ele não pensou que dentro de uns cinco anos a geração Y será o executive board das empresas, serão os gestores seniores e os Z é que estarão ocupando os cargos em ascensão? Será que ele está acompanhando a onda do empreendedorismo no Brasil e nos movimentos que o mercado está fazendo?
A pesquisa da Global Entrepreneuriship Monitor (GEM), coordenada com participação de institutos como o London Business School e o Babson College e divulgada pelo SEBRAE, mostra que o número de negócios com até três meses de atividade cresceu 97% em relação a 2008 no Brasil, quando apenas 2,93% da população adulta tocava empreendimentos. Em 2009 a taxa subiu para 5,78% sendo que 52,5% destes novos empreendedores estão entre 18 e 34 anos de idade!
Geração Y na liderança das empresas é um fato irreversível. Adaptação a esta realidade é tarefa "para ontem", pois os Z estão chegando à galope. É hora de Baby Boomers, X e Y aprenderem a superar as diferenças, pararem de se tratar como "os outros" e potencializarem a noção de "nosso time".
Com o aumento da taxa de expectativa de vida no Brasil, as quatro gerações estarão cada vez mais ativas e presentes no mercado de trabalho. Temos que nos aliar como mentores amigos, fazendo aflorar desses rapazes e moças seu melhor, sua essência e nos nutrindo desta força que eles transbordam com tanta exuberância. Não devemos conter o entusiasmo deles nem bancarmos os vovôs ou papais rabugentos querendo que eles tenham o imaginário parecido com o nosso. Nós também levamos tempo para chegar onde chegamos.
Temos que investir tempo pesquisando, entendendo e criando estratégias para lidar com a geração Z. Os Y e Z necessitam da mentoria e da experiência dos Baby Boomers e dos X. Muitos deles se queixam que os mais experientes não tem interesse em ensinar as coisas para eles. Já ouvi este depoimento de vários Y.
Precisamos focar no potencial que temos diante de nós. Os Y e Z nascidos numa economia globalizada e produto da sociedade pós-moderna: individualista, secularizada, utilitarista nos apresenta o incrível paradoxo de ser as gerações mais envolvidas com questões de sustentabilidade e responsabilidade social. O futuro do planeta está na mão da gestão deles. É preciso ter uma visão um pouco mais sistêmica sobre esta Terra que gira.
Talvez tenhamos que fazer uma análise muito honesta e nos perguntarmos, até que ponto as críticas que fazemos a estas gerações não estão carregadas de um ressentimento barato, nutrido por uma crise de meia-idade pouco assumida e muito mal resolvida, de quem não teve tempo para investir na carreira porque estava totalmente absorvido pelo trabalho e providenciando a "comida no prato" dos nossos filhos Y e Z.
Trabalhar com gente jovem é muito bom. Nos estimula, desafia, revigora e nos lembra que o cérebro não envelhece. O corpo fica frágil, mas as ideias, quando a mente está sã, se tornam cada vez melhores com o passar do tempo. Nenhum de nós era maduro na idade deles, mas os problemas que afetam a sociedade da informação são muito diferentes dos problemas que nos afetavam quando éramos bem jovens.
Vamos fazer um upgrade?





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