quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dalai Lama derruba muros invisíveis e, assim, sugere que bondade também pode ser fonte de poder


Como jornalista, já tive oportunidade de fazer contato com líderes empresariais, governamentais, cientistas e pensadores em geral (e até com algumas celebridades das artes e dos esportes, mesmo elas estando fora da minha área de especialização). Ou seja, já encontrei, profissionalmente, um bocado de gente influente, mas, até anteontem, não havia nenhum líder espiritual nessa minha lista. No último dia 15, conheci Sua Santidade, o Dalai Lama. (A imagem ao lado parece uma pintura de Caravaggio, mas é uma foto que tirei com o celular sujeita a flashes e iluminação forte no palco – ele é o da esquerda.) E querem saber? Realmente foi algo novo.
A ideia do Fórum de Líderes Empresariais era reunir o líder tibetano e empresários em um encontro que pudesse semear algum compromisso em torno de uma economia baseada na indústria da paz, como contraposição à tradicional, que é baseada, ninguém questiona, na indústria da guerra e da fome/escassez. O princípio deles, resumido e simplificado, é o de que, alterando o modo de gerenciar as empresas, podemos evitar guerras e outras catástrofes (não se luta contra um parceiro de negócio e/ou quando se tem um bom padrão de vida), o que reduz custos para as empresas, o que aumenta receitas para as empresas (até porque consome-se mais em situações de paz), o que é bom para quem busca lucro (loop positivo para todos). Essa economia da paz (pregada na Unipaz, entre outras instituições) se baseia em Ds: desenvolvimento sustentável, diálogo, desarmamento (interno, principalmente), diversidade, democracia participativa… Outro modo de “etiquetar” essa economia é dizendo que se troca a competição pela compaixão, como se vê no título do livro do Dalai Lama.
Enfim, esse acima foi o contexto do encontro. As propostas concretas às empresas feitas de viva voz pelo líder tibetano vocês conferem neste link. E haverá também um texto a respeito na edição de novembro-dezembro da HSM Management, com foco em liderança. O que eu quero dividir com vocês aqui é diferente: são as sensações mais pessoais, o tal “algo novo” a que me referi. Acho que nunca antes, na minha vida, vi uma pessoa tão desarmada quanto o Dalai Lama. Desarmada no sentido de aberta aos outros, sem muros invisíveis em torno de si. Desarmada e, por isso, desarmante. Minto: já vi, sim, mas as pessoas ficam assim quando estão fragilizadas, por exemplo, por alguma doença ou tragédia. Depois, voltam ao “normal”, que é se proteger.
O Dalai Lama se mostrava sinceramente desprotegido, algo que se percebia na linguagem corporal dele. E isso foi fascinante, encantador mesmo. Ele se oferecia aos outros e as pessoas se entregavam em retorno. Óbvio, o Dalai Lama é muito midiático, representante de um país oprimido, e provavelmente uma das maiores e mais unânimes celebridades mundiais atuais –quase como se fosse um Pelé da religião, também midiático e representante de minoria– e isso já nos predispõe a sentir uma comoção. Além do mais, há as vestimentais e rituais. Mas, ainda assim, arrisco a empurrar meu ceticismo de lado e dizer que aquele monge é sinceramente desarmado. Se ele tem coragem de se abrir tanto às pessoas, a dedução acaba sendo a de que ele é genuinamente bom. Saíram outras matérias da estada dele no Brasil, críticas em relação ao fato de ele querer “marketar” seu novo livro, mas o que posso dizer é que, no evento do dia 15, ele não falou nada em livro e não houve clima marketeiro.
Sua Santidade falou foi de altruísmo, uma palavra que apanhou bastante nos últimos tempos e que ele resgatou de repente – ao menos, para mim. Vocês se lembram do Nuno Cobra, o coach do (piloto de F1) Ayrton Senna, dizendo que o altruísmo é egoísta e o egoísta tem altruísmo? Pois é, foi mais ou menos nessa linha que o altruísmo desandou, e não só no Brasil. Aí chega um senhorzinho, num inglês ruinzinho (infantil até), chamando o Brasil de Brésl, e tem coragem de dizer que ser autocentrados como somos é o que nos faz solitários, medrosos, gananciosos e nos leva às guerras e crises econômicas. Tudo isso, sorrindo, rindo, desarmado e desarmando. E a gente fica pensando que, além de altruísmo e bondade serem possíveis, eles podem de fato ser fonte de poder (outro tipo de poder). Gandhi não existiu só no cinema, né, galera?! Desconfio –apenas desconfio– que não devíamos nos esquecer disso.

» Comentários

  • Elieuza

    18/09/2011 -
    Gostei da forma como mostrou o que sentiu com o encontro com o Dalai Lima. Sinto que é por aí que precisamos caminhar se quisermos um mundo melhor, agora e no futuro. Quando todos irão se tocar de que o rumo que tomamos na economia (que irradia pra todas as demais áreas) não é o melhor caminho?
  • Rosanna Balado

    19/09/2011 -
    Sensibilizar as pessoas para tornar o mundo e o ser humano mais sensible!
    Conscientisar as pessoas para tornar o mundo e o ser humano mais consciente!
    Comunicar as pessoas para tornar o mundo e o ser humano mais comunicativo!
    Liberar as pessoas para tornar o mundo e o ser humano mais livre!
    Agradecer as pessoas para tornar o mundo e o ser humano mais agradecido!
    Rosanna Balado

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