quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Obras caras sacrificam margem da Trisul

(Valor Econômico pág. D3 - São Paulo/SP - 12/09/2011)
A incorporadora imobiliária Trisul engrossou a lista das empresas do setor que surpreenderam
seus acionistas com queda abrupta de margem por conta de obras mais caras que o previsto.
O mesmo ocorreu nos últimos trimestres com Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário
(CCDI), Rodobens Negócios Imobiliários, Cyrela e Gafisa e MRV.
O motivo mais comum para o estouro é a alta dos custos, especialmente de mão de obra, em
ritmo maior do que o projetado pelas empresas. Com a aproximação da entrega de
empreendimentos lançados há dois ou três anos, o desvio de orçamento se torna evidente e é
reconhecido todo de uma vez, sacrificando o resultado de um trimestre.
No caso da Trisul, no entanto, há um ingrediente adicional que torna o caso mais complicado.
Por conta da revisão feita pela companhia no orçamento das obras, a auditoria externa que
analisa seus balanços, Ernst & Young Terco, ainda não concluiu a checagem dos números
referentes ao segundo trimestre.
Para dar uma satisfação ao mercado após o atraso na entrega do balanço, cujo prazo l para
envio terminou no dia 15 de agosto, a Trisul decidiu divulgar na sexta-feira números não
auditados.
A margem bruta da companhia, que é o que sobra proporcionalmente da receita após
descontados apenas os custos de construção, ficou em 3,3% no segundo trimestre deste
ano, ante um índice de 27,4% no mesmo período do ano passado. No quarto trimestre de
2010, também após reconhecimento de estouro de obras, a margem bruta havia ficado em
13,3%.
Na ausência do parecer do auditor, que atestaria que todos os registros foram feitos de forma
adequada, o diretor financeiro da incorporadora, Lincoln Castro, disse em teleconferência para
analistas: "Já reconhecemos tudo o que tínhamos que reconhecer. Não esperamos nenhuma
surpresa nos resultados futuros".
Apesar da afirmação, o executivo não soube dar uma estimativa sobre quando a E&Y concluirá
o seu trabalho. "Ainda não temos previsão porque fizemos uma revisão [orçamentária de
obras] bastante completa, deve levar algum tempo que não conseguimos precisar", disse
Castro.
As ações da Trisul acumularam baixa de 16,8% na semana passada, enquanto o Imob, índice
das empresas imobiliárias da bolsa, teve queda de 1,8%.
Ao fazer seu trabalho, o auditor vai verificar, entre outras coisas, se houve erro nos balanços
anteriores, o que exigiria republicação, ou se o caso é apenas uma mudança de estimativa.
Outro teste será feito para avaliar se todas as mudanças de orçamento foram reconhecidas.
Após a forte baixa no segundo trimestre, a Trisul espera que a margem bruta se aproxime de
29% ou 30%, próximo ao verificado até setembro de 2010. Sem projetar prazos para a
melhora da margem, Castro afirmou que a expectativa é que isso ocorra "num futuro próximo".
Com o objetivo de reduzir custos, a companhia contratou duas consultorias. A Gradus
Consultoria de Gestão revisará os processos de engenharia e relacionados ao repasse de
clientes, enquanto a Logical System vai implementar gestão da produção voltada à construção.
"Vamos ver as reduções de custos mais nitidamente a partir de 2012", prevê o executivo.
A Trisul estima entregar 18 empreendimentos no segundo semestre, ante os nove da primeira
metade do ano.
A companhia encerrou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 33,66 milhões, ante o
lucro de R$ 16,76 milhões apurado um ano antes. O resultado operacional medido pelo lucro
antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou negativo em R$ 5,06
milhões, após alcançar positivos R$ 36,22 milhões no segundo trimestre de 2010. No intervalo
de um ano, a margem Ebitda trimestral despencou de 17,3% para -2,6%.
Antes de tomar a decisão de divulgar os números não auditados, no entanto, a administração
da Trisul procurou o aval do conselho fiscal da companhia, que se recusou a assumir
responsabilidade sobre a iniciativa.

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